Adendo: A Lyra e a Quinze ainda existem e resistem para nossa felicidade. Nossa e de todos que amamos aquela terra e as suas coisas. Há dois ano atrás, 2004, tive a felicidade de retornar ao meu querido Belmonte, por poucos dias, mas suficientes para banhar minha alma de energia revigorante de alegria. Quando de lá retornei, com o coração transbordando de felicidades, fiz uma carta a meus irmãos(ães) e demais parentes e amigos, em agradecimento, a que deu o título “Você Faz Parte Desta História”, na qual faço o seguinte relato sobre a Lyra e a Quinze, que me permito transcrever:
“... À noite, estava jantando, quando ouvi o som de um dobrado, corri para a varanda, como diria Chico Buarque, “pra ver a banda passar”, era a Lyra, rejuvenescida, desfilando com garbo e elegância. Foi muita emoção, meu rosto banhou-se de lágrimas, lágrimas de alegria, de saudades de tempos passados. Vontade de ir para a rua e desfilar junto àqueles rapazes, moças e raros senhores, responsáveis por manterem acesa aquela chama de amor, de valores culturais, de tradições, desejo de abraçar a cada um deles e dizer-lhes meu muito obrigado por me carregarem de volta a minha saudosa infância, confesso que vi, com os olhos molhados de alegria, (ou seria imaginação?), o meu tio Dodó desfilando junto deles. Mas não foi só a Lyra a remoçar, também a Quinze, apresentou-se na Praça da Matriz com instrumentos e fardamentos novos. Como é gostoso ver aqueles jovens estufados de orgulho, a tocar suas marchas e dobrados que certamente requereu horas e horas de ensaios, sem nada visarem a não ser o orgulho, o reconhecimento e, sobretudo o amor que certamente passado de pai para filho.
Mas a cena mais tocante estava para vir, quando após a novena, as duas bandas perfilhadas em frente à igreja, fizeram a sua retreta, sob um imenso aguaceiro, onde todos os presentes procuraram se abrigar, aqueles abnegados, sem se importarem, sem se mexerem, como os mais disciplinados soldados, aguardavam que o adversário (sim, ainda são adversários, não mais como outrora, diria, mais amistosos, mas com uma rivalidade latente, que certamente não se extinguirá, pois é o alimento que as sustentam), terminasse sua apresentação para emendar por sua vez. Ali assistindo tudo aquilo, extasiado, cheguei a temer a repetição do debate de 1948, mas após a execução de várias peças musicais de parte a parte, a Lyra retirou-se primeiro, seguida da Quinze, desfilando até suas respectivas sedes, encharcadas até as raízes dos cabelos, mas alegres e orgulhosos, para no dia seguinte às 5:00 horas da manhã, acordarem a cidade em alvorada sonora. Só em Belmonte! Existirá em outro lugar? São essas coisas que a nossa televisão americanizada deveria mostrar ao resto do país nos seus “Fantásticos”. Isto é cultura, é brasilidade.
José Carlos Lemos Silva, 2009
Transcrito por: Allan Gabriel